Inespecificidade
Referências
ESCOBAR, Tício. El arte fuera de sí. Assunção: CAV: Museo del Barro, 2004.
GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Trad. Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.
KIFFER, Ana; GARRAMUÑO, Florencia (org.). Expansões contemporâneas: literatura e outras formas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
HISSA, Cássio Eduardo Viana. A mobilidade das fronteiras: inserções da geografia na crise da modernidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006.
KRAUSS, Rosalind. A escultura no campo ampliado. Revista Gávea, Rio de Janeiro, v. 1, p. 87-93, 1984. Reedição disponível em: https://monoskop.org/images/b/bc/Krauss_Rosalind_1979_2008_A_escultura_no_campo_ampliado.pdf. Acesso em: 20 jan. 2018.
LUDMER, Josefina. Literaturas pós-autônomas. Sopro: Panfleto Político-cultural, Desterro, p. 1-6, 2010. Disponível em: https://www.culturaebarbarie.org/sopro/n20.pdf. Acesso em: 21 mar. 2024.
YOUNGBLOOD, Gene. Expanded cinema. New York: P. Dutton & Co., Inc., 1970.
Como citar este verbete
MOREIRA, Maria Elisa Rodrigues. Inespecificidade. In: MOREIRA, Maria Elisa Rodrigues (org.). Glossário Audiovisual do LICEX. São Paulo, 2025. Disponível em: https://www.grupolicex.com/glossario-verbete/inespecificidade. Acesso em: dia/mês/ano.
Maria Elisa Rodrigues Moreira
É a crítica e ensaísta argentina Florencia Garramuño quem discute, no livro Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea (2014), os elementos que têm tornado cada vez mais difícil delimitar a especificidade dos diversos campos e linguagens artísticas. Se essa discussão parece ter ganhado novo fôlego no século XXI, em que os limites estéticos passam a ser atravessados também por aspectos propiciados ou amplificados pelas tecnologias, ela não é uma coisa recente. Pode-se identificar suas raízes nas produções artísticas que questionam o próprio conceito de arte ou os meios nos quais essas se realizam, de que talvez o exemplo mais emblemático seja “A fonte”, de Marcel Duchamp, que coloca em questão o objeto artístico, seu meio de produção e seu espaço de circulação.
O que caracterizaria as obras inespecíficas seria uma espécie de movimento de ruptura com a ideia de que as manifestações estéticas poderiam ser contidas e agrupadas por limites que apontariam seu pertencimento a determinado universo específico, institucionalizado. Essas obras, ao contrário, se disseminariam rumo à fronteira, no sentido a esta dado por Cássio Hissa (2006): um espaço expansivo que se volta para fora, para o outro, para a diferença, mobilizando o pensamento sobre os diálogos e as fricções que nesse movimento se estabelecem.
O debate proposto por Garramuño reverbera as reflexões sobre o campo expandido nas artes, sobre o qual pensaram anteriormente Gene Youngblood (1970), Rosalind Kraus (1984), Tício Escobar (2004), Josefina Ludmer (2010), entre outros. Em diálogo com essas reflexões, em Frutos estranhos ela se volta a obras estéticas que apresentam "um modo de estar sempre fora de si, fora de um lugar ou de uma categoria próprios" (Garramuño, 2014, p. x), obras que não conseguem encontrar um lugar específico no qual situar-se. Em outro livro dedicado ao assunto, que Garramuño organiza junto a Ana Kiffer, intitulado Expansões contemporâneas: literatura e outras formas, as pesquisadoras apontam que as práticas estéticas contemporâneas produzem uma espécie de "implosão do meio específico" que implica, em especial, “um profundo questionamento do ‘próprio’ enquanto definição estável e circunscrita de uma especificidade” (Kiffer; Garramuño, 2014, p. 12). Nesse sentido, seriam como frutos estranhos, impertinentes (por não pertencerem a nenhuma categoria), inclassificáveis.